Não sou muito receptiva com pensamentos ruins
Os evito ao máximo.
É uma coisa natural:
O que é ruim, eu varro pra um canto escuro da minha mente.
E eles ficam lá, como se nunca tivessem existido.
Então eu me sinto numa espécie de transe, te torpor,
E enterro esses pensamentos conturbados.
Nesses momentos procuro preencher minha mente,
Pra evitar cruzar essa área interditada.
Fico apenas ladeando-a,
Caminhando cautelosamente pela beira do penhasco,
Tentando não olhar pra baixo,
Tentando ignorar o fatídico momento da queda.
Mas eles sempre ficam me espreitando,
Traiçoeiramente,
Procurando um momento de fraqueza,
Pra pular bem diante de mim
E afundar suas garras cruéis no meu peito.
Posso dizer que já passei por momentos sombrios.
E seria tola se não tivesse plena consciência
De que existem pessoas que passam por piores todos os dias.
Mas a dor de um, não diminui a dor do outro.
Saber que um sofre mais, não te faz sentir melhor,
Não junta os cacos abandonados
Do que um dia já foi um órgão tão pulsante e vivo.
E não é uma coisa que eu premedito.
Meu subconsciente já faz esse trabalho sujo.
É ele quem faz questão
De estar sempre amolando essa faca de dois gumes.
E apesar de saber que um dia
Esse monte de sentimentos ruins vai desabar,
Continuo procrastinando.
Continuo fugindo covardemente,
Continuo recuando como um cão amedrontado.
E aí vem a vergonha de mim mesma.
Da minha covardia,
Da minha fraqueza,
Diante de uma situação tão familiar;
Que fere meu ego, que pisa no meu orgulho,
Que me faz sentir o mais medíocre dos seres.
E o que eu faço com esse sentimento?
Atiro na pilha trêmula daquilo que eu tento esquecer.
E quando essa tênue linha se rompe,
Quando em um passo em falso, eu desequilibro essa pilha,
Tudo desaba e a dor vem de vez.
Com uma força descomunal, humanamente impossível de descrever.
Nenhuma palavra consegue expressar a dor dilacerante que sinto.
Começa com um vazio no peito.
Um vazio cheio de dor.
Cheio de vergonha, de raiva, decepção, revolta, mágoa, fraqueza...
Dói tanto, que chega a ultrapassar a dor emocional,
A dor é algo físico, materializado.
E vem a vontade de gritar, até minha garganta sangrar,
Até minha voz sumir;
Até toda a força do meu corpo se esgotar.
E é aí que eu tento inutilmente retirar esse buraco do meu coração
Arrancá-lo a qualquer custo.
Fazê-lo desaparecer.
Não é algo inesperado,
É algo que é evitado.
Simplesmente um fato ignorado.
Tentar explicar o que sinto,
Me faz sofrer.
Revivo tudo o que me incomoda,
Tudo o que eu varro pra o meu canto secreto.
E o mais doentio é que eu não consigo transmitir
Nem um décimo da minha dor.
Remexer nas feridas dói.
Mas até quando eu devo deixá-la cicatrizar?
Como saber o momento em que eu devo intervir
Pra que ela não se fixe em mim,
Se tornando uma marca permanente?
E é nesse ponto, que eu guardo a minha dor de novo,
E tento com toda determinação possível,
Escondê-la, como é de praxe.
Mas sempre ficam as sobras,
Até que o tempo as esconde, aumentando minha ilusão
E então sinto a tão conhecida falsa segurança misturada com o alívio.
Mas fico sempre vigiando,
Sem descanso,
Temendo o momento (e ele sempre vem)
Em que essa dor vai voltar pra me assombrar,
Pra perturbar os meus mais tolos sonhos.
Engraçado é que eu sempre caio na minha própria armadinha,
Esperando inutilmente que um dia, essa dor se consuma,
E nunca mais volte.
Seria cômico se não fosse tão trágico;
O meu subconsciente adora me pregar peças.