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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Será Que Podiam?


Será que o mundo a via, como ela se sentia?

Será que as pessoas podiam ver a paixão que queimava feito brasa, por detrás dos seus olhos tristes?

Será que podiam sentir a necessidade, que ela tinha de tê-lo por perto?

Será que podiam sentir a atração inexplicável, que aquele corpo, possuía sobre ela?

Será que podiam ver através daquela cortina de gelo, o quanto o seu olhar se tornava terno, quando ela olhava pra ele?

Será que podiam ver que toda a raiva acumulada, se dissipava com um mero momento ao seu lado?

Será que podiam ouvir seu coração disparando quando ele ficava perto?

Será que podiam ouvir seu coração se partindo e repartindo em pedaços cada vez menores, quando ele a decepcionava mais uma vez?

Será que podiam perceber que não importava o quão perto ela estivesse, seu corpo sempre pedia mais proximidade?

Será que podiam perceber que o controle lhe faltava, quando se tratava dele?

Será que podiam notar que seu corpo só lhe parecia completo, com o dele junto ao seu?

Será que podiam entender o quanto ela o desejava ardentemente?

Será que podiam entender que o desejo ardia cada vez mais e que ela parecia a beira da insanidade a cada dia que passava?

Será que algum dia, ela entenderia por que o desejava tanto?
Será que algum dia, ela cansaria de se maltratar?

Será que algum dia, ela admitiria pra si mesma, que aquilo já fazia parte dela e não havia maneira de tirar?

Será que algum dia, esse amor se desgastaria?

Será que algum dia, alguém entenderia o porquê de ela amá-lo tanto?

Será que algum dia, alguém lhe contaria?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

À Espreita


Não sou muito receptiva com pensamentos ruins

Os evito ao máximo.


É uma coisa natural:

O que é ruim, eu varro pra um canto escuro da minha mente.

E eles ficam lá, como se nunca tivessem existido.


Então eu me sinto numa espécie de transe, te torpor,

E enterro esses pensamentos conturbados.


Nesses momentos procuro preencher minha mente,

Pra evitar cruzar essa área interditada.

Fico apenas ladeando-a,

Caminhando cautelosamente pela beira do penhasco,

Tentando não olhar pra baixo,

Tentando ignorar o fatídico momento da queda.

Mas eles sempre ficam me espreitando,

Traiçoeiramente,

Procurando um momento de fraqueza,

Pra pular bem diante de mim

E afundar suas garras cruéis no meu peito.


Posso dizer que já passei por momentos sombrios.

E seria tola se não tivesse plena consciência

De que existem pessoas que passam por piores todos os dias.


Mas a dor de um, não diminui a dor do outro.

Saber que um sofre mais, não te faz sentir melhor,

Não junta os cacos abandonados

Do que um dia já foi um órgão tão pulsante e vivo.

E não é uma coisa que eu premedito.

Meu subconsciente já faz esse trabalho sujo.

É ele quem faz questão

De estar sempre amolando essa faca de dois gumes.


E apesar de saber que um dia

Esse monte de sentimentos ruins vai desabar,

Continuo procrastinando.

Continuo fugindo covardemente,

Continuo recuando como um cão amedrontado.


E aí vem a vergonha de mim mesma.

Da minha covardia,

Da minha fraqueza,

Diante de uma situação tão familiar;

Que fere meu ego, que pisa no meu orgulho,

Que me faz sentir o mais medíocre dos seres.

E o que eu faço com esse sentimento?

Atiro na pilha trêmula daquilo que eu tento esquecer.



E quando essa tênue linha se rompe,

Quando em um passo em falso, eu desequilibro essa pilha,

Tudo desaba e a dor vem de vez.

Com uma força descomunal, humanamente impossível de descrever.


Nenhuma palavra consegue expressar a dor dilacerante que sinto.

Começa com um vazio no peito.

Um vazio cheio de dor.

Cheio de vergonha, de raiva, decepção, revolta, mágoa, fraqueza...

Dói tanto, que chega a ultrapassar a dor emocional,

A dor é algo físico, materializado.

E vem a vontade de gritar, até minha garganta sangrar,

Até minha voz sumir;

Até toda a força do meu corpo se esgotar.


E é aí que eu tento inutilmente retirar esse buraco do meu coração

Arrancá-lo a qualquer custo.

Fazê-lo desaparecer.


Não é algo inesperado,

É algo que é evitado.

Simplesmente um fato ignorado.


Tentar explicar o que sinto,

Me faz sofrer.

Revivo tudo o que me incomoda,

Tudo o que eu varro pra o meu canto secreto.


E o mais doentio é que eu não consigo transmitir

Nem um décimo da minha dor.


Remexer nas feridas dói.

Mas até quando eu devo deixá-la cicatrizar?

Como saber o momento em que eu devo intervir

Pra que ela não se fixe em mim,

Se tornando uma marca permanente?


E é nesse ponto, que eu guardo a minha dor de novo,

E tento com toda determinação possível,

Escondê-la, como é de praxe.

Mas sempre ficam as sobras,

Até que o tempo as esconde, aumentando minha ilusão

E então sinto a tão conhecida falsa segurança misturada com o alívio.


Mas fico sempre vigiando,

Sem descanso,

Temendo o momento (e ele sempre vem)

Em que essa dor vai voltar pra me assombrar,

Pra perturbar os meus mais tolos sonhos.


Engraçado é que eu sempre caio na minha própria armadinha,

Esperando inutilmente que um dia, essa dor se consuma,

E nunca mais volte.


Seria cômico se não fosse tão trágico;

O meu subconsciente adora me pregar peças.