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sábado, 1 de dezembro de 2012

o sonho menos sonho que eu já sonhei


como em todas as outras vezes, um pedacinho da minha consciência me aconselhava a aproveitar aquele instante, a absorver cada detalhe seu.
e assim o fiz.
por mais que o seu olhar fosse sereno, essa urgência dentro de mim não cessava.
o seu jeito de me olhar era sempre calmo, misterioso.
o costumeiro sorriso de quem sabe-algo-mais brincava nos seus olhos e aquilo mexia comigo, causava um burburinho no meu peito que eu não conseguia entender, não conseguia explicar.
meu coração se contorcia inquieto enquanto eu beijava sua bochecha demoradamente repetidas vezes.
sua barba por fazer arranhava meus lábios, mas eu não queria me afastar, não queria perder aquele contato.
lembro de ter murmurado que sentia sua falta.

acordei.

sempre me sinto tão incapaz nesses momentos. como posso expressar essa falta que você me faz se você não está aqui pra me ouvir? como posso chorar feito uma criança e correr pro seu colo se você não está mais aqui pra me beijar e dizer que vai ficar tudo bem?

quão boba você me acharia se eu dissesse que eu queria ter um número antigo seu só pra te deixar um recado na caixa postal dizendo tudo isso que eu venho guardando há seis anos?
tudo que eu queria era conversar com você, era te deixar um recado choroso dizendo o quanto eu ainda te amo e o quanto sinto a sua falta. todos os dias da minha vida incompleta.

será que esse peso no meu peito diminuiria?

mas agora não importa. tudo o que resta são lembranças.
lembranças que eu tento reter e se dissipam assustadoramente com o tempo;
lembranças que nem mil anos poderiam apagar.

minha mente rapidamente faz uma viagem. seis anos atrás, no mínimo.
a gente voltando pra casa de mãos dadas; você insistindo pra que eu fosse junto com você fazer uma besteira e você batendo o carro; você me ensinando a quebrar nozes atrás da porta; você pinicando o queijo de minha vó; você gritando minha mãe no jardim; o nosso último reveillón juntos; você voltando pra casa cedo e a gente, cúmplices, se empanturrando de mentos ("se sua mãe sabe disso, ela te mata!"); você comprando doces pra mim e pra você, comendo o seu rápido e querendo comer o meu; você querendo passar mais tempo comigo; os nossos programas em família.
quando ainda éramos uma família completa.

enxugo os olhos rispidamente.

é um turbilhão de lembranças felizes, doloridas, saudosas.
nessas horas o desespero bate fundo e eu fico com medo de te esquecer. sua voz, sua risada, seu abraço, seu beijo com bigode de cerveja.
será que se eu me esforçar muito eu consigo sentir o a sua bochecha áspera nos meus lábios? será que eu consigo sentir a maciez dos seus cabelos entre os dedos? será que eu consigo sentir a sua mão, tão grande, na minha?
seis anos.
e tudo o que me resta são lembranças, lágrimas nos olhos e essa saudade interminável e inexplicável de você.


tô com saudade.