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sexta-feira, 6 de março de 2015

colete pra quê?

o ar que já me parecia pouco, agora deu pra me faltar.

respiro frustrada. ou tento.
sinto vontade de gritar.

o peso de todas as dores, problemas e dúvidas que eu vim guardando naquele cantinho escuro e esquecido dentro de mim, no últimos meses, se fizeram presentes quando, de repente, perderam o equilíbrio, desabando dentro e fora de mim.

deixo aquele blues invadir os meus sentidos e não faço nada além de sentir.
não sei bem o quê. ou explicar o porquê. ou talvez só não queira, então foda-se.

aquilo pesa. esmaga meu peito, comprime os meus pulmões e não me deixa respirar.

por que esse maldito ar não vem?!
nah, eu também não entraria em mim, se tivesse escolha.

já estou esgotando as formas de sair de mim e ainda assim não consegui. não totalmente.
eu só quero me desligar (de mim), me entorpecer, subir tão alto que nada nem ninguém consiga me alcançar.

eu só quero me livrar desa sensação de estar encalhada no meio de um mar puto da vida, que me acerta, me golpeia e me afoga por tantos lados que eu mal consigo saber o que me atingiu.

eu quero me livrar dessa confusão aqui dentro que sempre me machucou muito mais do que essas feridas que todo mundo vê e insiste em perguntar: "o que foi isso?!".

e eu sei? não sei.

foi o mar.
foi a falta de ar.
foi um desabamento.

mas aqui fora ou aqui dentro? rá.

as de dentro ninguém vê, ninguém pergunta, ninguém quer saber.
mas doem muito mais. sangram muito mais. pesam muito mais.

e não tem ponto, anestesia, curativo, ou colete salva-vidas que dê jeito.

que engraçado. logo eu, que sempre tive tanto medo do mar, tenho um dos mais revoltos e cruéis aqui dentro.

daqueles que não esperam nem o seu pé tocar na areia pra te atingir de novo. e de novo. e de novo.

e, contrariando todas as minhas vontades, vez em quando, esse mar insiste em vazar um pouquinho.
mas tudo bem, não tem ninguém pra ver mesmo.

quem dera nem eu.